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O Movimento e a Pausa, instalação produzida para a exposição Experimentando Le Corbusier, Museu da Casa Brasileira (2018)
A construção do olhar é um dos princiais motes da instalação que Ivan Padovani propõe para a exposição Experimentando Le Corbusier. Uma série de módulos dispostos por toda sala, oferecem ao visitante diferentes percursos e campos de visão, orientando o olhar em direção às fotografias produzidas sobre o próprio espaço expositivo.
Neste site specific, que também faz referência ao conceito de promenade architecturale, Ivan Padovani trata da estreita relação entre a imagem, arquitetura e escultura, promovendo uma experiência tátil, visual e espacial onde a fotografia assume a função de mediar a fruição do ambiente. Desta forma a obra só se torna efetiva a partir da vivência do observador ao caminhar e experienciar a instalação durante seu deslocamento pelo espaço expositivo.
Ao assumir o branco sobre branco, estratégia explorada de forma recorrente na produção do artista, o trabalho reforça também uma das frases mais célebres do arquiteto: “A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”.
O projeto tem como fundamento algumas obras e croquis de Le Corbusier, como a Casa do Lago Léman, o ático de Bestegui e o Ministério da Educação no Rio de Janeiro, nas quais fica clara a intenção do arquiteto construir um olhar sobre a paisagem. Ivan Padovani faz um paralelo deste aspecto com uma das características primordiais da fotografia que é o enquadramento - decisão radical que também é marcante em sua produção. Mas também se volta para projetos desenvolvidos durante a primeira fase de Le Corbusier, nas quais o branco ou efemeridade eram mais presentes, como Maison Roche, Pavilhão Spirit Nouveaux e Villa Savoye.
O trabalho não se resume apenas à instalação em si, mas se completa com texto de Francesco Perrotta-Bosch, O Arquiteto, e com a posterior documentação fotográfica da exposição.
Curadoria: Pierre Colnet e Hadrien Lelong
Iniciativa: Instituto Cremme
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Vá até o Museu da Casa Brasileira. Adentre o eclético palacete. Transpasse o pequeno vestíbulo. Atravesse o largo saguão. Quando chegar ao salão de acesso ao jardim, deixe o eixo central do Solar e vire à direita. Verá um portal para um alvo ambiente onde parece emanar luminosidade. Vá para este espaço.
Primeiramente, pare na soleira da porta, olhe para frente e admire. Isto é arquitetura, já diria o egrégio mestre, “o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”. Cada elemento é rigorosamente dimensionado. Cada perspectiva está precisamente articulada. Cada passo a ser dado foi previamente determinado. Apresento-lhe o modo correto de ver este lugar.
À sua direita, há um bloco à meia altura. À esquerda, há um pequeno cubo frente a uma mureta que lhe permitirá ver o que há por trás. Siga reto por entre eles.
A diagonal do longo volume direcionará seus olhos para uma fotografia. Uma imagem daqui mesmo. O ato de enquadrar é digno àquilo que é imaculado e transcendental, como este ambiente que você está adentrando. Somente luz e sombra. Uma aproximação de um canto, de uma fresta, de planos que se diferenciam por sfumatos.
Contorne a mureta e você se verá frente a dois blocos esbeltos: um encostando na parede, outro colado à mureta. Prossiga pelo intervalo que há entre o duo. Você se deparará com um volume de altura pouco maior que o nível do olho: você tem as dimensões do modulor, certo?
Eis que você se encontra no centro da sala. Faça um giro com o corpo. Contemple o conjunto. Tudo é branco sobre branco. Massas distintas, recintos segmentados, superfícies desalinhadas, pouco importa: toda divisão se pacifica na alvura.
Aqui também há uma bifurcação. Por um lado, você terá o caminho mais largo, porém mais curto. Pelo outro, terá o recinto mais fragmentado repleto de arestas e quinas. Enfie-se no canto de ângulo agudo: será o único esconderijo a que, por aqui, terá direito. Mas, saia dele e siga a promenade architecturale. Aqui até você pode retornar à porta por onde iniciou esta breve jornada – não faça isso.
Invariavelmente ficará diante de uma imagem que reafirma o controle exercido do autor (i.e., eu, a autoridade) sobre a visão do usuário.
À direita da foto, verá a mais estreita passagem. Atravesse-a de lado, mas não toque nas brancas paredes. Não vá conspurcar o alvor que tudo esclarece e indefine: os frágeis contornos da mesma gama de cores em concomitância ao credo na lucidez da razão e da ciência. Para que não esqueça disso, antes de sair, você vai se deparar com a última fotografia: tão branca quanto tudo que por aqui encontrou.
Agora você está livre. Fez-se aberta a porta de saída deste discurso espacial. A experiência condicionada. Não mais seguirá sob meu controle. Porém, ingênuo será se pensar que o determinismo não prosseguirá nas próximas salas, ruas, cidades. Você acha que tem liberdade?
O Arquiteto